01 julho 2005

Crenças de Cabo Verde

" Agosto de 199o. Cabo Verde. Ilha deSantiago- Cidade da praia.
Uma jovem de 18 anos, com um bebé nos braços entrou receosa no serviço. O seu bebé, primeiro e único filho, estava a morrer... Vinha ao Hospital, mas sem a menor esperança de obter melhoras para o seu menino. A criança tinha dois meses e pesava 2,200 kg.
O menino não mamava porque a sua mãe, simplesmente, o deixara de amamentar. Fizeram-lhe crer que a sua mama era salgada. Culturalmente, essa crença inibira a mãe. Tinha medo de o matar com o seu leite. Entretanto o bebé estava a morrer á fome...
Batera a várias portas: vizinhos, curnadeiros, mas nada.
Viera sem esperança.
Recebi-a. Todo o dia acompanhei a mãe e a criança. Ao anoitecer, uma pequena luz despontava nos seus olhos ( e também nos meus!).
Recomendei-lhe que voltasse no dia seguinte para continuar o tratamento e o ensino de aleitamento ao peito mas sobretudo para lhe incutir a esperança já perdida.
Um dia, outro, vários dias passaram e aquela jovem procurou-me sempre, logo pela manhã. Passava o resto do tempo no hospital, na sala de reidratação e o seu filho estava melhor...Já mamava e esta jovem compreendeu que o seu peito era normal, e não salgado, como lhe tinham dito.
Voltei para Portugal e soube que me fora procurar, meses mais tarde na escola de enfermagem, para mostrar o seu menino, que já andava. Passado tempo regressei a Cabo Verde e a jovem procurou-me novamente no Hospital... Estava grávida de novo e tinha confiança em mim. Estava feliz mas não estava sozinha. Senti que às vezes é preciso bem pouco para contribuir para tão grande felicidade"

Nazaré Santos
Cabo Verde 1990
in "Histórias para não adormecer":)

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