21 outubro 2010

Bocados de mim- Anaquim

Eu gostava de ser dessas pessoas positivas que andam pela vida cheias de planos para amanhã
Que dizem frases feitas mas têm suas próprias manias
Que os outras gostam delas porque elas são mesmo assim.

Eu gostava que no fundo o mundo fosse simples.

Que o dia fosse um barco e a noite fosse um cais.
Se tudo fosse sim ou não para mim era mais fácil
E eu não tinha que magoar as pessoas que gosto mais.

Eu gostava de ser mais ajuda para a família.
De aprender a fazer bolos em casa da minha avó,
Porque ela me quer lá e até faz alguns petiscos com a minha mãe a ajudar para que ela não se sinta só.

Eu gostava de me lembrar mais de algumas coisas que a vida foi levando em tratamento de choque:
De me recordar de cheiros, de barulhos e dos discos com que a minha irmã me ensinou a ser alguém do rock


mas ando pela vida feito placa de auto estrada que ensina o caminho aos outros mas pouco sabe de si.
Mas ando pela vida por ver andar meus amigos
E confesso que por vê-los nem me custa andar ai

Eu gostava de ser qualquer coisa mais peculiar
O blog da Filipa e os textos que lá diz
Um assunto que tivesse algum efeito nas pessoas
Como os poemas da Ines ou as anedotas do Luis

Eu gostava de me dedicar aos trocadilhos
Que me fazem perder tempo e não fazem rir ninguém
Que há coisas que não são para rir
São só para ter pinta
Já dizia o meu pai e eu só agora entendi bem

Mas ando pela vida cinzentão e esbatido
Sem ter a coragem de convidar gente para dançar
Mas ando pela vida sem ter a lata do Hugo
Que é capaz de fazer tudo para a malta se animar

Eu gostava de saber explicar bem o que sinto
Não mentir como minto quando digo que estou bem
Porque todos temos dores e para cheirar as flores
Desbravamos os caminhos com a ajuda de quem vem

Eu gostava de ser qualquer coisa mais bonita
Fosse o sorriso da Rita fosse o carinho da Rute
Lutar cegamente por aquilo que se acredita
Porque há lutas que se perdem mas precisam que alguém lute

Mas ando pela vida às vezes sem ser sincero
Lá me vai pesando quando é hora de deitar
Finjo ser a pessoa que eu quero que os outros gostem
E acabo a não ser nada que valha a pena gostar

São só bocados de mim
São só bocados de nós
São só bocados que eu enfim deixei ir na minha voz

Foi um "autor desconhecido" que disse. Referiu e frisou que os passados não o faziam sonhar e eu sinto-me sonhar se podesse dizer tal coisa.



Há quem sonhe com coisas que aconteceram, e explicam porquê.
Eu sonho com coisas que nunca acontecerão e pergunto:
porque não?"


Por agora ainda me limito a dizer que faço ambas coisas e as perguntas que me restam sobrepõem-se a qualquer tentativa de resposta que possa fazer depois disso.